Publicado em UWC Li-Po Chun

Fazer-se à estrada (ou ao mar!)

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O quê?! Outro post?!! Em menos de uma semana?!!!

Não se habituem.

Escrevo-vos às cinco da tarde de um domingo, no meio de trabalhos de casa e preparações de apresentações. Foi-me dito que não falo sobre a vida escolar tanto como falo da vida fora da escola (que, admita-se, é bem mais entusiasmante) por isso, aqui estou eu. Com o prazo das candidaturas aos UWC a fechar amanhã (dia 23), venho contar-vos um bocadinho mais sobre as aventuras de sala de aula (que também são muitas!).

Não temos muitos testes por disciplina, mas quizzes (“mini testes” de 15/20 minutos) são a dar com um pau, perdoem-me a expressão. Como os horários são em ciclos e não semanais, como expliquei num post anterior, a cada dia 1 do ciclo tenho quiz de química, (ocasionalmente) de biologia e os quizzes de matemática calham quando o diabo escolhe. Apresentações temos de fazer milhares. Brincadeira, dezenas. Temos comentários orais e escritos dia sim dia não e trabalhamos em conjunto para debater sobre assuntos super variados.

Os principais elementos de avaliação, para o senhor IB, são as EE (Extended Essays) e IA (Internal Assessment), que consistem em coleção de data e a respetiva análise. Teses e teses e teses e teses e teses. Mas estes dois, embora já apresentados e introduzidos como métodos de avaliação desde o início, só são realmente feitos no segundo ano do IB (ou entre o primeiro e o segundo; trabalho de férias, woohoo!)

Com Self Taught (Literatura Portuguesa A) os prazos para as avaliações são mais apertadinhos – oito livros para ler e interpretar até fevereiro!!! -, visto que vou terminar esta disciplina num ano em vez de dois.

Temos imenso trabalho e, claro, os dias só têm 24 horas, por isso, fazer o equilíbrio do triângulo social-dormir-estudar é difícil! Mas não é impossível! Quatro meses de IB e ainda estou a tentar entrar na onda. As pessoas e a cidade e os pequenos (grandes) momentos de ligação à nossa própria humanidade fazem o stress valer a pena. A vulnerabilidade une-nos. Independentemente de não falarmos tanto com esta ou aquela pessoa, assim que admitimos que precisamos de ajuda ou que não estamos completamente certos do que estamos a fazer, assim que passamos por dificuldades, estamos automaticamente acompanhados. Há um apoio mútuo que me impressionou quando primeiramente o senti (e o ofereci). É como ter uma outra família, passageira, mas (quase) tão importante como a da terrinha natal. Nem tudo é um mar de rosas, com certeza, mas podemos sempre fazer do nosso presente o melhor mar que conseguirmos e marearmos por ele com um sorriso na cara. Ou, pelo menos, sabemos que tentámos.

De qualquer maneira, estou em casa longe de casa.

(Espero que se tenham candidatado, sem hesitações, com alguns medos, e com muito entusiasmo!!! Boa sorte para todos os que puseram a primeira bandeira na possibilidade da jangada!)

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Mariana – Li Po Chun UWC, Hong-Kong (2016-2018)

Publicado em UWC Li-Po Chun

De volta ao outro lado do mundo (literalmente)

E estou de volta ao literal outro lado do mundo que é agora também o meu.

Há uma semana que voltei a dormir no meu metro quadrado, como gosto de lhe chamar com algum ressentimento mas com ainda mais carinho. Tem sido esquisito. Demorei um bocadinho a habituar-me à meia-cama e à falta de paredes, mas imensas fairy lights e umas noites (quase) sem dormir depois e estou de volta à vida “””normal””” no LPC.

No espaço de uma semana já tivemos um GIF (Global Issues Forum, debate, desta vez, sobre Correção Política) e uma College Meeting (todos os alunos se juntam no auditório para discutir assuntos relativos à escola, atividades /dinamizações que estão para vir e falar de preocupações ou tópicos que precisam ser comunicados a toda a comunidade). Entre aulas, QCs, tentar dormir, tentar comer, trabalhar para o IB e ainda reuniões de bloco, de noites culturais e de família com a tutora, impossível não estar cansada. Mesmo só depois de uma semaninha e meia. Há, claro, todas as coisinhas boas:

  1. a conveniência de ter o metro aqui ao lado
  2. ver os amigos e amigas todos os dias
  3. as conversas no telhado
  4. as surpresinhas de cartas de amigos do outro lado do mundo (não o vosso, o outro-outro lado do mundo)
  5. as etiquetas em tudo o que é comida no frigorífico do bloco
  6. o ginásio dia-não dia-não
  7. as duas horas de dança/coreografia às sextas feiras
  8. as duas horas de dança com as companheiras de quarto todos os dias
  9. o friozinho quente de Hong Kong

E no jeito de acrescentar um enorme parêntesis às coisinhas boas mas com cheirinho a exceção:

No passado sábado, foi-me dada a oportunidade de ir à Academia de Artes Performativas de Hong Kong ver o musical Wicked “straight out of New York’s Broadway”. Foi um sonho. Já tinha na lista da bota ir ver um musical da Broadway ao vivo há imenso tempo. Prometo que chorei de alegria. Check out the teaser:

Mariana – Li Po Chun UWC, Hong-Kong (2016-2018)

Publicado em UWC Changshu China

REFLEXÃO OU UMA QUASE REFLEXÃO

Olá,

Neste blog vou fazer uma coisa um bocadinho diferente. Vou fazer uma tentativa de reflexão destes 4 meses que já passaram desde que cheguei aqui a Changshu. Esta tentativa é uma “quase reflexão” dado que para é-me difícil ainda, explicar e reduzir a minha experiência a meras palavras, vagas muitas delas.

Para tornar a leitura diferente vamos fazer isto interativo ahah se quiserem podem abrir o youtube e pôr a tocar esta música “First Breath After Coma – Blup”, apenas pelo simples facto de que acho que ajuda a pôr o “mood”.

Estes 4 meses têm sido um carrossel de emoções.

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Uma semana aqui é tão intensa que chegamos ao final da semana estafados, completamente. O problema vem quando nem ao fim-de-semana podemos descansar. Para vos dar um exemplo, em Portugal estava tão cansado que dormia 12 horas por dia! todos os dias! E sinceramente, nem me sentia cansado. Este cansaço acumulado de 15 semanas seguidas é que me fazia hibernar cada vez que fechava os olhos. Aqui estamos constantemente com responsabilidades e não há pais para nos acudirem. Psicologicamente é esgotante mas acho que vale a pena.

Uma coisa que adoro aqui é o facto de não haver rotina. É claro que temos um horário para cumprir pessoal ahah mas todos os dias acontecem cenas novas e a escola nunca pára. Em Portugal, eu pensava muito no futuro. Aqui aprendi a pensar no momento e a desfrutar o momento. Se podes fazer algo agora não adies para amanhã.

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Já fiz amizades de todos os cantos do mundo (cantos num mundo que é redondo…).   Já vivi experiências inesquecíveis que podem passar apenas por aquela conversa às 2 da manhã com o meu colega de quarto sobre a cultura e o país dele ou por uma ida ao Vietname com os meus amigos! A própria China e a maneira como eles vivem, também acho que me mudou. Apesar de ainda ser uma cultura bastante diferente, estava à espera de uma diferença muito maior de culturas e o que me tenho vindo a aperceber é que somos quase iguais. É claro que as diferenças são muitas e existem mas na sua essência há bastantes similaridades.

Cresci, para cima e para os lados também (é de admirar). A comida, apesar de ser diferente, é muito boa e estou um mestre com os pauzinhos.

Não me arrependo de nada.

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Se quiseres ter um experiência como a minha ou similar, aproveita e candidata-te! Vai ao site da UWC Portugal e preenche o formulário de inscrição. Tens até 23 de Janeiro e não custa nada.

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João – UWC Changshu, China (2016-2018)

Publicado em UWC Mahindra

Uma Montanha-Russa muito diferente da do FunCenter

Como dizia F. Scott Fitzgerald, “It’s a funny thing coming home. Nothing changes. Everything looks the same, feels the same, even smells the same. You realize what’s changed is you.”

Esta é provavelmente uma das frases mais repetidas por estudantes dos UWC. E todos nós reconhecemos que a situação se complica ainda mais quando aquilo a que chamamos “lar” se torna tão dinâmico e confuso. Quando regressei a Lisboa pela primeira vez, em dezembro de 2015, senti-me uma autêntica turista na minha própria cidade. Passear por ruas cujo nome sabia de cor, ir a restaurantes cujo menu se mantinha o mesmo, sair em estações de autocarro cujo trajeto tinha memorizado, ouvir as típicas conversas sobre a geringonça e a situação económica do país num autocarro, tudo isto estava igual. E, durante três semanas, tentei habituar-me à ideia de que apesar do conforto proporcionado, Lisboa era apenas um porto seguro. Quatro meses repletos de desafios, sapos na sanita, pôr-do-sol com uma vista sobre o vale; amizades criadas com jogos de lama, danças à chuva, tentativas falhadas de cantar música de Bollywood, convívios com chai às 3 da manhã e aulas tão cativantes com aquelas que foram as melhores discussões que tivera foram suficientes para criar um mundo totalmente diferente daquele a que estava habituada.

No entanto, 3 semanas em Lisboa não chegaram para que voltasse a ser uma alfacinha ou, pelo menos, para interiorizar de que ainda o era. Na verdade, 3 semanas em Lisboa fizeram-me perceber o quanto tinha mudado (Fitzgerald tinha toda a razão). Aquilo em que reparava era bem diferente ou mais nítido: a linguagem utilizada nas publicidades, o tipo de conversas à minha volta, onde é que as pessoas se sentavam num autocarro, a quantidade de papel que se usava para embrulhar um presente de natal, etc.

E, sem dar conta disso, o segundo período chegara. E, num abrir e fechar de olhos, já tinha terminado e estava na hora de empacotar todas as recordações do meu primeiro ano. Porém, durante aquilo que parecera milésimos de segundo de um movimento dos meus olhos, tornara a mudar. O mais intrigante é que com tantas caminhadas ao monte Wilko, fogueiras ao pé da piscina ao som da típica ‘Riptide’, jantares temáticos com italianos a queixarem-se da má qualidade da massa, aulas de química e sessões de ginásio que acabam por ser só rir (sempre trabalha os abdominais) não tivera tempo de refletir muito sobre a montanha-russa de emoções que ia vivendo. A primeira montanha-russa a que tinha ido fora a do FunCenter aos 8 anos. A montanha-russa para crianças passara a ser uma inexplicável força da Natureza (ou como lhe quiserem chamar) sobre a qual refletia.

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Vestida de palhaço, após uma sessão de Nose Up Medical Clowning (uma espécie de operação nariz vermelho mas que também inclui political clowning)
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Eu e alguns dos membros do meu grupo durante as mini-férias em Goa

O verão, precisamente por ser composto por todos os festivais de verão, idas à praia, saídas à noite, bailaricos da aldeia, sestas à beira do rio e conversas com a família em dias em que o sol só se põe às nove também não me deu a oportunidade de o compreender, de me compreender. Por outro lado, todas estas atividades e eventos que me tornam tão eu e que vivo tão intensamente com a minha família e amigos ajudaram-me a perceber que também com elas eu mudava e que também elas me iam fazer entender que, quando regressasse à Índia para o meu segundo ano, iria estar diferente. E, assim, o dilema de entender onde é que eu vivia mesmo permanecia, tal como a vontade constante e incessante de viver cada segundo ao máximo. Num rápido bater de coração, daqueles que soam a um coração preenchido de adrenalina, o avião para Mumbai descolara.

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Uma loja típica de Paud, a aldeia mais próxima da escola

Sempre tive uma certa curiosidade em relação à forma como expresso a mim própria como me sinto e uma curiosidade ainda maior sobre como é que o faço. Por vezes é através de karaokes (demasiado) barulhentos ao som de músicas com as quais me identifico, com o sabor de gelado que mais me marcou ou com o silêncio que de repente invadiu um espaço. E foi neste silêncio que comecei a refletir sobre quem era, as minhas ambições, os meus sonhos e tudo aquilo que tinha vivido até então. Percebera que tinha ocupado demasiado o meu tempo, talvez para evitar pensar muito sobre o assunto. Portanto aquele silêncio que se espalhara durante a viagem de autocarro de 6 horas para ir ao aeroporto buscar os primeiros anos iniciou uma reação em cadeia. De repente, a única forma de compreender o que se ia passando dentro da minha mente foi escrevendo um poema, uma autêntica novidade para alguém como eu que opta pelo conforto de um relatório laboratorial. E ficou mais ou menos assim (mais ou menos porque nunca voltei a pegar nele. Preferi deixá-lo como está: inacabado e com muito por dizer, por causa da consciência de que toda a experiência ainda não terminou):

6 Horas de silêncio

Este entusiasmo que para a Índia transportamos,
A ânsia de novas descobertas,
De mais portas abertas
É o que nos move e inspira para por um mundo melhor lutarmos

Os porta-bagagens dos camiões decorados
Bandeiras, Marathi, cores
As viagens em comboios apinhados
Rebentam-me choros enlevados

O cheiro latejante a incenso, a curcuma, a humanos
Um abafo intenso de cultura
Um mar de fruta, vegetais, especiarias – os sorrisos de ternura
Revelam a vontade de ter um período que não tem apenas momentos mundanos

Os prédios em construção nos bairros de pura confusão
Noites de conversa repletas de diversão
Desde política, ciência e sustentabilidade
A dúvidas existenciais e reconhecimento da nossa própria vulnerabilidade
Regressar tem o som do regozijo dos latinos durante o almoço

De um acordar com o chilrear de um pássaro que come um caroço

O guincho de um macaco durante uma viagem de bicicleta à aldeia

Um aglomerado de pensamentos durante a lua cheia
Regressar tem sabor
A todas as palavras que ficaram por dizer
Entoações que escassearam naquele último dia de calor
Antes de partir para mais um período de húmido e puro viver
À medida que estas instâncias me passam pela mente
Apercebo-me de que o que tenho pela frente
Não é apenas mais um ano,
Mas um sonho que se prolonga eternamente

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Vista sobre o vale da casa da árvore
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Eu e os meus primeiros anos portugueses, Isis e João, durante um dos nossos muitos jantares portugueses ao som de Deolinda, Anselmo Ralph, Sam The Kid, GNR e muitos mais

Leonor – UWC Mahindra College, Índia (2015-2017)