Publicado em UWC Changshu China

Project Week!

Acabei de chegar da Project Week e já quero voltar. Quero voltar para sentir de novo a adrenalina do improviso, a satisfação de dever cumprido, o cansaço de noites mal dormidas por razões tão gratificantes, a pura genuidade das crianças.

Project Week (PW) é uma semana em que saímos do colégio em grupos relativamente pequenos (à volta de vinte alunos por cada grupo), supervisionados por dois professores, e dedicamos sete dias a servir. A servir o país que nos recebeu de braços abertos sem pedir nada em troca.

Na minha PW partimos para partes mais rurais da China e voluntariamos em escolas locais, permitindo às crianças contactarem com a língua inglesa, perceberem que há muitas formas de aprender para além da tradicional “sentar e ouvir o professor” e, não menos importante, mostrar-lhes que há mundo para além da vila onde vivem e que há imensas oportunidades à espera deles.

As únicas instruções que nos deram para a PW foram que tínhamos que nos juntar em pequenos grupos e preparar aulas, atividades e um cultural show para fazer na escola onde íamos trabalhar. Para além de Portugal, no meu grupo havia pessoas da China, Indonésia, Madagáscar, Líbano, USA, Irlanda, Nigéria, Albânia, Equador e Tibete.

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A parte pré-PW exigiu imenso trabalho. Tivemos que nos organizar, dentro do nosso grupo, em pequenos teaching groups, dentro dos quais preparámos, autonomamente, as aulas que queríamos ensinar e as atividades que queríamos liderar. A escola que nos foi destinada foi uma escola primária, em que nem alunos nem professores falam uma palavra de inglês.

Quando chegou, finalmente, o dia de meter a mochila às costas e partir rumo a Pulan, em Hebei (Hebei é uma província no Norte da China), estávamos todos numa enorme excitação e com imensa vontade de servir aqueles que mais precisam. A viagem de seis horas de comboio passou a correr. Foram seis horas de incríveis conversas sobre tópicos que nos afetam a todos, como cidadãos do mundo. Divisões e desigualdades entre países do primeiro e do terceiro mundo foi um dos tópicos mais debatidos.

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Depois de chegarmos à residencial em que ficámos alojados, acertámos mais uns detalhes, participámos em algumas atividades de team building e preparámo-nos para, no dia seguinte, acordar às 5:30 da manhã para chegar à escola às 7:30 e pôr os nossos planos em prática.

A nossa estadia na escola teve, sem sombra de dúvidas, um enorme impacto em mim, como aluna de um UWC e como agente de um movimento educativo incrível. Dar aulas a crianças entre o 1º e o 3º ano e lidar com as diferentes situações que surgiram, sem conseguir comunicar eficientemente com os alunos ou professores da escola foi, sem dúvida, um enorme desafio.

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Quando chegámos à escola encontrámos alunos e professores tão entusiasmados por nos receber como nós estávamos entusiasmados por os visitar. Pediram-nos autógrafos e fotografias como se fossemos estrelas de cinema. Foi uma sensação estranha, por vezes desconfortável, mas muitíssimo gratificante.

Preparei 4 aulas com objetivos diferentes que repeti várias vezes durante os dias que lá estivemos a ensinar. Todas as minhas aulas tinham como objetivo, mais do que ensinar-lhes Inglês ou qualquer outra disciplina, abrir horizontes e ajudá-los a sonhar.

Ensinei-lhes, entre outras coisas, nomes de animais, uma música de Halloween, a Macarena, Cotton Eye Joe e tive uma aula 100% dedicada ao tema Paz. Esta última aula foi a que mais me marcou.

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Dividimos a aula em duas partes. Na primeira pedimos-lhes para desenharem, individualmente, o que a palavra Paz significa para eles. Na segunda, pedimos-lhes para arregaçarem as mangas e pintarem com as mãos, nuns cartazes enormes, o símbolo da Paz. Ambas as partes foram divertidas e úteis, mas a primeira foi aquela que eu penso ter tido maior significado. Cada um deles vê Paz com olhos diferentes e expressaram-no de forma incrível, fazendo uso da enorme criatividade que ainda não lhes foi roubada. Um dos desenhos que mais me marcou foi o de uma menina do 2º ano. Para ela, Paz é a China e o Japão dentro do mesmo coração.
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Durante a nossa estadia na escola muito aconteceu. Sentimo-nos tão especiais e, em várias circunstâncias, tão inúteis face às injustiças que acontecem, todos os dias, em tantas partes do mundo, enquanto nós vivemos, descansados, na nossa bolha de privilégio. É impossível verbalizar o quão grata estou por ter podido viver tudo isto.

Depois de uma semana intensíssima, o momento de voltar a casa chegou. Voltámos, felizes e com uma sensação de dever cumprido para o nosso querido UWC. Encontrámos, no portão, os nossos amigos à nossa espera, cheios de vontade de ouvir as nossas histórias de PW e de partilhar as deles. Senti, mais uma vez, que ganhei, aqui, uma segunda família.

Júlia – UWC Changshu China (2017-2019)