Publicado em UWC Changshu China

Desabafos

Olá,

O propósito deste post? Nem sei, não me perguntem. Desabafar talvez, falar comigo mesmo ou mesmo só para os meus pais saberem de mim e do que ando a fazer, o que quer que seja, estou a fazê-lo. Esperem pensamentos aleatórios e divagações, o que o “Pessoa” chamaria de um “pensativo cigarro”.

Há já 2 meses que voltei a Changshu e tem sido diferente do que estava à espera, coisa tão UWC, sempre a surpreender. O tempo é cada vez mais escasso e deadlines cada vez mais abundantes. Tinha expectativas de conhecer muito mais primeiros anos do que conheço agora mas o IB não tem dado tréguas. O mood na escola já teve melhores dias, a pressão académica, social e em geral não melhora cada dia que passa, e o que vale é que nos temos uns aos outros e os melhores primeiros anos de sempre que nos apoiam sempre (Props para a Júlia <3).

No entanto, sinto-me como nunca me senti mentalmente. Encaro tudo com positividade e sinto-me inabalável. Cada vez mais sinto que o mundo é enorme e a minha vontade de o conhecer aumenta a cada dia. Não sei o que o futuro me reserva nem o que quer de mim e isso faz-me levantar da cama todos os dias, numa tentativa de descobrir. Cada momento é precioso e o tempo está a preço de ouro, procrastinar é um luxo. Por mais que isto pareça um blog do Gustavo Santos não é, e não é isso que quero passar. Penso no futuro mas sobretudo no presente. O prazer em estudar voltou e submeti o meu “Extended Essay” que foi uma sensação de alívio mas também de vitória. Poder ver onde comecei e onde acabei, faz-me sentir realizado e orgulhoso. Agora está na hora de me pôr bonito para ver se alguma universidade me quer.

Como a estrutura deste texto, também a meteorologia aqui anda do 8 ao 80. Num dia estamos a suar com tanta humidade no outro estamos a bater o dente. Tempo propício a reflexões, penso no dia em que me irei embora e penso no dia em que cheguei. Volto a pensar e a despensar. Aquilo que aprendi aqui não se pode, jamais, comprar. Mudei e mudo como a meteorologia, instável mas saudável (o uso desta palavra aqui é questionável) e recomendo-me.

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Sou o número 10 na foto!

Ps: Este mês comecei a jogar num clube e vamos participar no que é a  “FA Cup” ou “Taça de Portugal” chinesa, para a qual estou bastante entusiasmado e também vou participar no novo Musical da escola!

De mim,

Espero que estejam todos bem, e desculpem se não tenho dito nada, estou ocupado a viver!

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Atuação no Dia da Paz


João, UWC Changshu China (2016-2018)

Publicado em UWC Changshu China

Boot Camp

Umas das atividades extracurriculares em que me inscrevi chama-se Boot Camp. São sessões de 1h com exercício físico de alta intensidade em que o objetivo é cada um dos participantes tirar o maior proveito da sua capacidade física. No final de todas as sessões, sinto-me a transbordar de felicidade, com a sensação de que aqueles 60 minutos que acabei de viver valeram imenso a pena.

Depois de um mês e meio de UWC sinto que a descrição mais aproximada do meu dia a dia é um Boot Camp intelectual permanente. Um Boot Camp que me desafia em tantas frentes diferentes que acabo sempre com o coração a mil e a respiração cortada.

Esta semana, saltei uns quantos níveis e aterrei num Boot Camp intelectual de intensidade altíssima. Aterrei na Golden Week.

A Golden Week é uma semana em que toda a China se junta para celebrar o País do Centro, 中国 (em caracteres chineses, a tradução literal de China equivale a País do Centro). Desde o Norte até ao Sul do país, desde os mais novos até aos mais velhos, ninguém falha as celebrações. O país pára e curva-se, deixando os mooncakes (doce tradicional desta época) e as refeições em família subir ao palco e dançar ao som do Erhu.

Para comemorar o país que de forma tão hospitaleira nos recebeu, o colégio dá-nos dez dias de férias, que podem ser utilizados “ao gosto do freguês”. Estes dez dias foram, sem sombra de dúvidas, uma imersão cultural incrível, em que vivi a China na primeira pessoa.

Partimos de Changshu sexta feira à tarde, rumo à nossa primeira paragem – Shanghai. Shanghai foi, sem sombra de dúvidas, uma enorme surpresa. As luzes, os carros, as pessoas, a agitação. Senti-me, de um momento para o outro, engolida pelos arranha-céus, cega pela imensidão que paira no ar poluído de Shanghai.

Shanghai é uma das maiores potências económicas do mundo pelo que é preciso ter algumas cautelas, mantendo sempre uma distância de segurança entre nós e a febre consumista. Felizmente, tive a sorte incrível de ter returning students e(spetaculares)xperientes a guiarem-nos pela melhor face de Shanghai.

Numa das noites, depois de visitar a Bund, um dos musts de quem visita Shanghai, dois segundos anos (um deles, o João, o meu segundo ano português ❤) disseram-nos que tinham uma surpresa para nós (sendo “nós” um grupo de 8 alunos da China, Portugal, Noruega, Coreia do Sul, Madagáscar e Venezuela). Ficámos todos em pulgas e seguimo-los até ao lobby de um hotel incrível, com trinta andares e luxo incomensurável. Levaram-nos até ao trigésimo e último andar do hotel, um terraço do outro mundo, com um jacuzzi fantástico no meio, em que conseguimos ter uma vista sobre a cidade inteira. Senti-me suspensa no ar, com o coração a mil. Como que por magia, a agitação incessante desta cidade que parece não dormir ficou congelada no tempo. As luzes a tiritar prédio sim, prédio sim, abraçaram-me com tanta força que fiquei com a respiração cortada. Senti-me fora de mim, com pessoas incríveis, num local inexplicável.

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Shanghai convidou-nos também a dar uns fantásticos passeios de bicicleta à luz da Lua, a explorar o fantástico Art District e a dar longas caminhadas por ruas estreitinhas, muitas vezes abafadas pela imponência da West Nanjing Road. Tudo isto ao som de conversas únicas, com pessoas tão especiais.

De Shanghai apanhámos o avião para Shijiazhuang, a cidade da Joyce, uma das minhas fantásticas amigas chinesas. Shijiazhuang é uma cidade no Norte da China, perto de Beijing, muito marcada pelo patriotismo e pela forte componente cultural. Fizemos tanto nos curtos cinco dias que passámos em Shijiazhuang que me é sinceramente difícil resumir tantas emoções, sabores e experiências em meia dúzia de palavras. Vou dar o meu melhor.

Uma das melhores partes de ter passado estes dias em Shijiazhuang foi o facto de ter passado um festival nacional no seio de uma família chinesa. Senti, por isso, a cultura chinesa de forma muito próxima.

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Em termos gastronómicos, esta estadia foi uma autêntica montanha russa. Experimentei todo o tipo de pratos e doces, desde carne de burro a uma especiaria que paralisa a língua de quem a come durante 5 minutos. Os chineses são talvez o povo mais acolhedor que eu já tive o prazer de visitar. Acolhedores e preocupados com o bem-estar dos visitantes como são, não nos deixavam nunca acabar a refeição antes de todas as migalhinhas terem desaparecido. Em todas as refeições, uma quantidade enorme de doces e salgados era colocada no centro da mesa e partilhada por todos, com muita conversa pelo meio (as mesas chinesas têm a particularidade de terem um vidro no centro que pode ser girado de forma a facilitar a partilha). Isto porque nas refeições chinesas tudo gira em torno da partilha. Da partilha e dos chopsticks (“pauzinhos”) – já estou uma mestre na arte dos chopsticks.

Para além da gastronomia, alguns dos episódios mais especiais da estadia em Shijiazhuang foram a subida a uma montanha lindíssima, a cerimónia de chá em que participamos e a visita que fizemos a casa de um mestre de caligrafia chinesa.

Começando pela montanha. Na China o conceito de escalar montanhas é diferente daquele que eu sempre conheci. Aqui as montanhas estão equipadas com uma enorme escadaria, desde a base até ao topo da montanha, com pequenos templos aqui e acolá. Cada degrau (dos imensos degraus que subimos) valeu a pena. Encontrámos uma vista incrível, um ar puríssimo e um sentimento de leveza fantástico.

A cerimónia de chá foi também uma experiência espetacular. Fomos a uma Casa de Chá, onde nos serviram chás de diferentes origens, seguindo sempre o rigoroso protocolo que reina estas cerimónias.

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Finalmente, a casa do mestre de caligrafia chinesa trouxe-me momentos únicos e memórias inesquecíveis. A arte da caligrafia chinesa é algo que, desde que cheguei ao “País do Centro” me cativou e despertou imensa curiosidade. Tive, nesta visita, a oportunidade de aprender com uma pessoa muitíssimo experiente. Tive a oportunidade de ver, tocar, sentir a caligrafia chinesa pelas mãos de alguém que vê, toca e sente esta arte de forma tão profunda. Foi incrível.

Depois destes dias tão especiais, voltei hoje para o colégio, onde encontrei amigos que me são tão queridos, o meu quarto que me é tão casa e o ambiente UWC, que sinto já tanto como meu.

Voltei ao colégio, sem fôlego, mas tão pronta para mais um período de escola intenso, cheio de imprevistos incríveis pelo meio. Voltei ao colégio, sem fôlego, mas ansiosa para que próximo nível deste Boot Camp em que agora vivo comece e revele as surpresas que me trás.

Júlia, UWC Changshu China (2017-2019)

Publicado em UWC South East Asia

Fim de semana

Este fim de semana (23, 24 e 25 de setembro) a boarding community organizou uma viagem à Indonésia, mais precisamente a Bintan, uma ilha paradisíaca no norte da região de Lagoi. Saímos do campus assim que as aulas acabaram, foi uma correria total! Do colégio até Bintan foram quase 2 horas de viagem de barco, confesso que adormeci durante a viagem. Quando chegámos lá o sol já se estava a pôr. Imaginem o cenário: uma praia paradisíaca, como aquelas que vemos nos anúncios das agências de viagens e o pôr-do-sol! Não há foto que faça jus à beleza daquele momento.

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Depois de uma visita rápida aos nossos quartos e uma tentativa de desfazer as malas, fomos jantar. A comida estava ótima, serviu para variar um pouco da comida da Sodexo. Jantámos ao pé de uma das piscinas do resort e assim que o jantar acabou estava toda a gente dentro de água. Foi um bom momento de descompressão e serviu para dar umas boas gargalhadas. Sequinhos e com a pele cheirar mais a cloro do que sei lá o quê fomos para a praia. Passámos a noite inteira a jogar Catch the Flag (Apanha a Bandeira), e sinceramente acho que devia contar para CAS porque o esforço físico estava lá. Uma coisa é certa, a minha equipa acabou por perder, por quantos não digo senão a minha auto-estima vai por água abaixo! Não esquecendo que tive que andar à procura dos meus chinelos no meio da praia durante a noite, feito louco.

No dia seguinte, aproveitámos a manhã para ir à praia, que faz competição com as praias de Portugal, e a tarde passámos na piscina. Como era de esperar apanhei um escaldão, serve de recordação.

Durante o jantar de sábado, que foi servido na praia, tivemos várias atuações de estudantes e professores. Não me posso esquecer do ponto alto do fim de semana, a festa na fogueira. Dançámos num círculo enorme ao som de música de várias partes do mundo, com especial ênfase para a música africana e indiana. A melhor parte foi o Bhangra, uma dança tradicional indiana que aprendi a dançar aqui no colégio. Foi dos momentos mais divertidos e memoráveis até agora!

Domingo foi o último dia, de manhã fiz arco e flecha, não acertei nenhuma no centro mas o que conta é a intenção. Assim que acabámos de almoçar, fizemos as malas e regressámos a Singapura (e, sim, também adormeci na viagem de volta). De volta ao IB que até agora tem sido gentil comigo e à vida no colégio que tem sido uma experiência incrível, cada dia que passa apaixono-me mais por esta oportunidade única.

Tiago, UWC South East Asia – Singapura (2017-2019)