Publicado em UWC Dilijan

Atum!

Faz hoje uma semana que as aulas recomeçaram aqui no UWC Dilijan, na Arménia, e voltou a nevar neste que tem sido um inverno com particularmente pouca neve.

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Estou aqui na biblioteca em frente a uma grande janela com vista para as árvores cobertas de branco e penso em Portugal, de como não neva em Almada e de como foi estar de volta por um mês depois de quatro fora.

Lembro-me do avião levantar vôo de Viena e da sensação estranha que senti na barriga, uma estranha ansiedade de estar já longe do colégio, ter os meus amigos já outra vez espalhados pelo mundo e de voltar a casa para os meus outros amigos e família. Uma estranha ansiedade e curiosidade. Curiosidade e apreensão. Até talvez um certo receio por ver como as coisas estavam em Portugal, se teriam mudado muito em tão pouco tempo.

A sensação voltou ao ver as praias da costa de caparica e trafaria, desta vez com uma pequena grande euforia de ver as areias portuguesas. Assim que me apercebi, estava a correr por de trás dos meus pais e a surpreendê-los no aeroporto.

Ao voltar ao meu quartinho onde mal cabia eu, o malão que tinha trazido, a cama e a secretária, senti-me um bocadinho como Gulliver em Lilliput mas… sozinha! Rapidamente me voltei a habituar. Mais rápido que a minha mãe a voltar a ter de pôr quatro pratos na mesa.

 

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Eu, a Paulina (México) e o Fernando (El Salvador)

 

Passei bons momentos em família, a revisitar lugares que adoro e a reunir com amigos e UWCers. Tive em casa uns co-years de El Salvador e do México. Foi uma experiência muito fixe, mostrar-lhes os lugares onde cresci e onde me sinto tão à vontade, vê-los deliciados com os pastéis de nata e de Belém, encantados com a simpatia das pessoas e estourados das viagens que tinham feito pela Europa durante 3 semanas e meia.

Foi muito bom estar de volta e ver o mar outra vez, agora que já sei, levo a bagagem recheada de latas de atum e azeite, pronta e com as energias recarregadas para um segundo semestre!

 

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Desta vez vou preparada: a mala vai cheia de azeite e latas de atum!

 

 

 

Beatriz, UWC Dilijan – Arménia (2017-2019)

Publicado em UWC ISAK Japan

Um dia típico na colina

E é assim! Já passou um quarto da minha experiência UWC! 4 meses que voaram, mas as memórias e as aprendizagens ficaram, todas as novas amizades e todos os momentos que me marcaram.

Num UWC todos os dias são únicos e isso é que faz com que a experiência seja tão enriquecedora. Mas mesmo assim vou tentar descrever um dia “típico” no UWC ISAK Japan.

Tudo começa com a minha colega do Uruguai a acordar o resto do quarto, uma rapariga de Portugal, outra da Libéria e outra das Ilhas Marshall. Preparamo-nos e vamos para o pequeno-almoço. O meu colégio é muito pequeno, somos 170 alunos no total. Eu gosto bastante disso, porque dá nos a oportunidade de criar uma comunidade muito familiar. Quando chego ao pequeno-almoço vejo caras que me são muito próximas, pessoas de todo o mundo sentadas à mesa a partilhar uma refeição, como se fosse uma coisa natural! A comida é diferente todos os dias, mas claro temos sempre muito arroz a acompanhar…

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Depois, começam as aulas, às 8 da manhã. Aula de políticas globais, onde aprendemos sobre questões correntes, discutimos certos “case studies”, e debatemos sobre tópicos atuais. Olho à minha volta e apercebo-me que tenho dois colegas que são de lados opostos do conflito que estamos a estudar. Isto torna a aprendizagem muito mais vívida e clara, os dois lados comunicam e tentam entender-se um ao outro. Aqui podemos ver a missão UWC em prática, o UWC faz da educação uma força para unir pessoas, nações e culturas, em prol da paz!

O dia continua… Aula de Japonês: aprendemos um novo alfabeto – Katakana, que é usado para escrever palavras estrangeiras; falamos um pouco sobre origem de algumas palavras, como ありがとう (arigatou) e eu ensino-lhes que vem do português “obrigado”. Aula de Química: porque não ter uma aula ao ar livre? Levamos o quadro branco para a relva e sentamos-nos no meio da estrada a falar sobre configuração eletrónica. Aula de Inglês: estamos a analisar como a linguagem e o seu significado são moldados pela cultura e o contexto. Para isso tivemos que escolher e analisar uma música que transmita os valores UWC e apresentá-la.

Assim que chega a hora de almoço corremos todos para o refeitório, um espaço relativamente pequeno onde temos que caber todos: alunos, professores e staff.  Esta é, provavelmente, a minha altura preferida do dia. Tenho sempre conversas muito interessantes durante o almoço, sejam elas com os outros alunos ou professores. Os tópicos de conversa variam desde coisas bastante simples como partilha de experiências pelo mundo, até conversas mais profundas sobre, por exemplo, o próprio IB.

Depois do Almoço vem o ‘Stop and clean’ – durante 20 min todos limpamos a escola juntos. A cada aluno e professor é lhe designado um local do campus que tem que limpar/arrumar e certificar-se que está o melhor possível (fazemos esta limpeza todos os dias de semana). Esta é uma pequena prova que trabalho de grupo torna tudo mais simples! As aulas são retomadas por mais duas horas, até às 15.30.

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As tardes dependem muito do dia da semana. Às 2ª feiras temos Assembly, todos os membros da comunidade escolar reúnem-se durante 1 hora. Durante este tempo temos avisos/anúncios (que qualquer pessoa pode fazer), apresentações, debates, etc. Terças, quartas e quintas temos tempo para atividades e clubes, e às sextas temos o nosso projeto CAS. CAS (Creativity, action and service) é uma grande parte do IB, que todos os alunos têm que completar para receber o seu diploma. Funciona um pouco diferente em todas as escola, no Japão temos 3 atividades/projetos principais:

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  • Clubes – todos os alunos têm que pertenecer a 2 clubes no mínimo e temos reuniões semanais. Este ano pertenço a 5 clubes – Teatro, Liderança, Voleiball, agricultura sustentável e CAPI (um clube de organização de eventos culturais). A maioria dos clubes são liderados por alunos e somos nós a decidir o que fazer ao longo do ano.
  • Departamento de educação do ar livre – isto involve acampamentos, caminhadas, escalada e muito mais. Neste últimos 4 meses fiz 4 destas atividades, maioritariamente caminhadas longas com pernoita. Carregamos as mochilas e tendas às costas e caminhamos durante o dia todo, acampamos e no dia seguinte continuamos a caminhada.

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  • Projeto CAS – todos os alunos desenvolvem um projeto ao longo dos dois anos e põem-no em prática. O meu projeto chama-se Project Bridge Japan, o nosso objetivo é trazer o conhecimento da diversidade para as gerações futuras, para gerar uma comunidade de mente aberta e mais informada. Este projeto surgiu por nos termos apercebido do quão isolados e reservados são os Japoneses. No Japão 98.5% da população é de origem japonesa, o que torna a exposição a novas culturas e mentalidades muito reduzida. Este projeto é totalmente iniciado e liderado por nós, um grupo de 5 alunos de 17 anos. Nós tomamos todas as decisões, escolhemos onde e quando queremos ir, o que queremos fazer, e aprendemos com os nossos erros. No meu projeto, estamos a fazer workshops em escolas secundárias, onde falamos com os alunos sobre diversos temas atuais e tentamos expô-los a uma certa diversidade a que não estão habituados.

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Num UWC todos os dias são únicos e isso é que faz com que a experiência seja tão enriquecedora. Depois de 4 meses cheios de oportunidades estou em Portugal com o coração cheio de novas experiências para partilhar, mas também com muita vontade de voltar e continuar esta aventura!

Ana Sofia – UWC ISAK Japan, Japão (2017-2019)